6 meses em Venture Debt e 5 principais aprendizados
O que eu tenho aprendido trabalhando no fundo pioneiro de Venture Debt no Brasil
Em breve, completo 6 meses na Namari Capital( fka Brasil Venture Debt), fundo pioneiro em Venture Debt no Brasil.
A tese e vantagem desse modelo de financiamento é prover um capital não-dilutivo para as empresas, em que elas usam o capital para financiar CapEX, M&A, estender runway…
Diante disso, quais têm sido meus principais aprendizados?
1. Passe mais tempo tomando decisões importantes
Não importa: em um negócio existem diversas coisas foram do seu radar. Pelo menos 50% do sucesso dele está em coisas fora do seu controle
Você pode ter o melhor produto, time e dinheiro, o mercado sempre vence. E não se controla ele
É importante entender onde se está pisando: Qual o mercado? Quem são os big players? Qual a tendência de crescimento? É sensível ao cenário macro?
Pode-se trabalhar muito, dificilmente a sua barraca de sorvete vai virar um unicórnio.
Desde estruturar uma planilha até a análise de qual mercado atacar. Antes de agir, pense profundamente nas decisões importantes, porque todo o resto deriva delas, e muitas vezes elas são irreversíveis.
Uma vez que se decide atacar o mercado de food service, o trabalho dos próximos 6 meses está atrelado a isso
Desde perguntas pessoais como : Onde vou morar? Com quem vou me relacionar?
Até aplicadas a business como: Qual tese vou defender? Qual caminho estratégico devo tomar?
Tais decisões definem o curso dos próximos meses. Pensemos nela profundamente
2. Credor e investidor possuem formas diferentes de abordar negócio
Equity é mais qualitativo. Credor é mais quantitativo, embora também se tenha o lado qualitativo.
O credor busca estressar cenários:
Qual a pior coisa que pode acontecer?
Quais são os potenciais riscos e como posso endereçar eles?
Qual a chance da empresa não me pagar?
O credor quer um negócio bom agora. Visto que sua margem de erro é menor e o prazo de pagamento é curto, ele não se interessa tanto com a receita da companhia em 10 anos. O histórico importa mais que o futuro.
Por outro lado, o equity é mais “sonhador” e otimista:
Qual a chance disso virar unicórnio?
Quanto de tamanho dá para atingir nos próximos 2 anos?
Por quanto poderia fazer um exit?
Mesmo que a companhia esteja mal AGORA, pode ser muito interessante caso se tenha um sonho grande e altas ambições no futuro.
Nas 2, são levados em consideração os riscos e vantagens do negócio, mas o principio por trás e a forma de pensamento são diferentes
Um negócio que queima muito caixa hoje possivelmente é ruim para o credor, mas para o equity pode vir a fazer sentido, visto que, no futuro, pode conquistar todo o mercado, caso se esteja em uma ambiente propício.
3. Saiba Resumir
Toda tese de investimento( ou desinvestimento) tem que ser resumida em 3 ou 4 principais drivers. Nada além disso.
Aqui, vemos negócios com n drivers e pontos de atenção, mas, visando otimização e produtividade, é crucial saber estruturar todas essas informações em poucos bullets.
Resumir é um superpoder e tenho buscado melhorar cada vez mais isso. Em um mundo hiper informativo, nada é tão importante como pegar 1000 palavras e resumí-las em 2 frases.
“Quais foram os 3 principais pontos que fizeram você descartar essa empresa agora?”
É fácil montar um estudo de 5 páginas sobre uma startup. O difícil é transformar isso em 4 frases.
Recentemente, analisei um case e descartei por 2 únicos motivos: (i) margens baixas; (ii) alto churn.
Dentre milhares de informações e pontos de atenção, resumir a análise em poucos drivers principais é um superpoder porque facilita o repasse da mensagem e a lição de toda a história
4.A vida é uma eterna interação. Startups são a prova disso.
Nós subestimados DEMAIS a nossa capacidade de se adaptar às coisas..
Startups começam testando o mercado com um MVP, e, a partir de eternas interações com clientes e canais, chegam a um PMF, com produto, canal e perfil de cliente bem montado. Mas isso só depois de n interações.
Todo processo começou ruim e foi se adaptando:
A relação com a sua namorada hoje é bem melhor do que quando vocês começaram.
O seu treino hoje é 100x melhor do que o primeiro
Subestimados o poder de “fazer, ter feedback, reajustar” na nossa vida. Achamos que tem que estar tudo perfeito.
Startups nos provam o contrário
A grande diferença entre uma empresa entrante em um mercado e outra já experiente, além das questões econômicas, é que a consolidada já sabe o que importa. Ela já iterou e testou tanto que entende os caminhos e nuances.
Já teve tantos feedbacks do cliente e reajustes de rota, que agora sabe o caminho.
"Shorter feedback loops means more iterations, and it’s the number of iterations, not the number of hours, that drives learning." — Naval Ravikant
5.A importância da análise qualitativa e quantitativa em conjunto
Toda analise é uma união de parte quantitativa com qualitativa. Há coisas objetivas, mas por trás de cada número tem uma história, que vai depender de aspectos subjetivos.
Se o negócio está no setor do Agro, tal indicador representa Y. Se ele está no setor de Health, representa X. Os números por si só não falam.
Um negócio pode ter bons indicadores e estar 100% dentro das ordens do ponto de vista objetivo, mas pode ter um founder que não tem bom histórico, e permeado em um setor que está começando a ser atacado por big companies→ “Os números me dizem isso, mas o futuro possivelmente não bate com o que vemos na planilha”
Nenhuma análise se faz 100% só com um dos pontos. Tem que sempre estar bem antenado sobre o que envolve o negócio, sejam critérios subjetivos ou objetivos.
E sempre passaremos mais tempo tentando entender os critérios mais abertos e qualitativos. Diferente do número, não é “só” sentar na cadeira e planilhar. Precisa entender do setor, ter um julgamento, falar com pessoas, mapear riscos.. Não é algo objetivo e 100% estruturado.
Além disso, os riscos nesse tipo de análise não são facilmente mapeáveis em termos quantitativos:
Por um lado, na analise financeira, sabemos que se a empresa vender 10% a menos ou for pressionada e perder 5% de margem bruta, terá um prejuízo de X. Mas, qual o impacto de uma possível saída do CFO? Qual o impacto de uma onda macroeconômica para o setor?
Qual o impacto de uma possível pressão do VC nos founders para o crescimento do negócio? Qual o impacto de uma feature mal colocada no produto?
Todos esses são difíceis de serem mensurados. Por isso temos que tomar cuidado com eles.
Espero que tenham gostado